segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Frio

Agora eu estou parada. O vento frio roça meu rosto. São muitos metros até o chão, mas eu posso ouvir os carros passando, as pessoas conversando, os pássaros cantando. Um dia como qualquer outro. Mas não para mim. Hoje eu quero voar.
Abro os braços. Sinto o vento frio de inverno ao redor do meu corpo, entrando pelas frestas das minhas roupas, me fazendo tremer. Mas o frio é bom. Ele me embala e me deixa leve. Fecho os olhos. Um passo. Dois. Três. Exatamente na ponta do precipício. Abro os olhos. Sinto náuseas ao olhar para baixo. Respiro fundo e volto a ficar parada. Fecho os olhos novamente. Não ouço mais os carros, nem as pessoas, nem os pássaros. O cheio nauseabundo de poluição sumiu. O mundo sumiu.
Então o prédio sob os meus pés também desaparece, e eu vou caindo, caindo, de braços abertos. A medida que eu caio, a pressão vai comprimindo meu corpo. Mas eu estou voando, como eu queria. Eu não sinto mais dor. Eu não sinto mais desespero. Eu não sinto mais medo. Eu não sinto mais nada, só um sentimento de tranquilidade, a tão esperada tranquilidade me invadindo por dentro.
E quando estou a ponto de me estatelar no chão, eu abro os olhos. Então estou de volta ao prédio, com todos os ruídos, cheiros, e aquele velho preto e branco de mundo urbano. Olho lá em baixo. Um suspiro sai de mim, então eu digo:
- Queria que valesse a pena.