sábado, 21 de julho de 2012

O futuro do passado


Hoje eu pintei minha boca de azul, com tinta óleo, sem querer. A cor do prato que eu quebrei mais cedo também era azul. Freud acredita que seja acaso, Jung diz que não.
Isso tudo está errado, e eu quero rebobinar. Eu tentei rebobinar a fita do Raul no rádio, mas não consegui. A tecnologia de hoje não me deixa usar a tecnologia de ontem.
A máquina de escrever não corrige meus erros ortográficos, e o filme da Polaroid instantânea ta custando caro.
Alguém trocou o carvão que eu usava pra desenhar por uma caneta esferográfica, e agora eu não sujo mais a mão.
O camelô agora passa cartão de crédito, e daqui a pouco o gigolô terá cartão de ponto.
E eu aqui, procedendo querendo retroceder, fazendo querendo desfazer, vivendo querendo morrer.
Hoje eu pintei minha boca de azul, com tinta óleo sem querer, e não quer sair mais. Mas tinta óleo não saia com água e sabão? Agora não sai mais.